Mais de 45 anos? Não esqueça da hepatite C

Publicado em 28/07/2015 no site do Conselho Regional de Medicina do Paraná.

O dia 28 de julho foi adotado pela Organização Mundial de Saúde como o Dia Mundial das Hepatites, com o intuito de estimular a adoção de campanhas acerca do relevante tema de saúde pública mundial. A hepatite C em virtude de seu caráter tipicamente insidioso e assintomático vem gerando preocupação acerca do gigantesco potencial de morbimortalidade demonstrado nas últimas análises epidemiológicas. Para ilustrar em números, de acordo com o último Global Burden Diseases, publicado agora em 2015 no Lancet com os dados mundiais de 2013, nos últimos 25 anos ocorreu no Brasil um aumento de 55% dos casos de cirrose hepática e de 641% dos casos de hepatocarcinoma em decorrência da infecção pelo vírus C.

Nesse período um aumento de 25% na prevalência da doença foi identificado e atualmente 2.231.000 brasileiros (1,2% da população) convivem com a doença. Os números são assustadores, porém infelizmente subestimados, pois a maioria dos casos ainda não foram diagnosticados.

Infecção transmitida através do contato com sangue contaminado, o vírus C é até 10x mais contagioso que o HIV. Sua descoberta como entidade etiológica somente se deu no início da década de 90, de tal maneira que pacientes que receberam derivados do sangue antes dessa data estão em risco. Por ser resistente e capaz de se manter vivo em superfícies por até 16 horas, qualquer procedimento invasivo (cirurgia, odontologia, tatuagem, piercing, manicure) sem esterilização adequada ou utilização de material compartilhado de drogas inalatórias (cachimbo, canudos, notas de dinheiro) é potencialmente fonte de contaminação.

O uso de seringas e agulhas infectadas compartilhadas é importante fonte de infecção, sendo que 67-92% das pessoas que já injetaram algum tipo de droga estão contaminadas. Serve o alerta que o compartilhamento desse material não se refere somente à drogadição, o hábito de utilizar medicação injetável com o uso de seringas e agulhas re-utilizáveis era quase que a regra até os idos da década de 80.

Analisando os dados expostos, a população atualmente acima dos 45 anos oriunda de uma época de revolução dos costumes e expostas a diversos riscos de infecção está nos limites da história natural da infecção crônica pelo vírus da hepatite C (20-25 anos). Essa fronteira na transição da fase assintomática para a sintomática pode estar próxima. Mais de 70% dos novos casos diagnosticados se situam na faixa acima dos 40 anos de idade.

Felizmente a evolução farmacológica tem trazido um alento para esses pacientes, as novas classes de medicamentos de inibição direta da ação viral têm possibilitado a retirada do interferon do esquema terapêutico, reduzindo o tempo de tratamento e os efeitos colaterais. De excelente tolerabilidade, as novas drogas têm apresentado taxas de resposta virológica sustentada (cura) de 90-95%. Os novos tratamentos estão sendo incorporados à rotina do Sistema Único de Saúde e estão disponíveis a toda a população.

Não espere os sintomas surgirem, não espere que o paciente vá relatar situações de risco de contágio em um passado tão distante. Solicite o Anti-HCV para todos os pacientes acima de 45 anos que o procurem na atividade clínica.

Cassia Sbrissia Silveira (CRM-PR 20765 | RQE 18.516), hepatologista do Instituto para Cuidado do Fígado.

https://www.crmpr.org.br/Mais-de-45-anos-Nao-esqueca-da-hepatite-C-13-45373.shtml

Dr. Fábio Silveira

Médico pela PUCPR (CRM 20009/PR). Residência médica em cirurgia geral pela PUCPR, com área de atuação em cirurgia vídeo-laparoscópica (RQE 192). Título de Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RQE 13560). Título de Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (RQE 15509). Atua na área de transplante de fígado, pâncreas e rim. Membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado (ILTS) e da Sociedade de Transplantação (TTS).

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