A cirurgia do transplante de fígado.

Curioso quais são os passos da cirurgia de transplante de fígado? Conheça um passo-a-passo de uma das cirurgias mais complexas do corpo humano.

Uma vez no Centro Cirúrgico, você conhecerá o médico anestesiologista, responsável pelo seu procedimento anestésico. Você será submetido à anestesia geral durante toda a cirurgia. Uma vez adormecido, os cirurgiões realizarão um corte transversal no meio do seu abdome com prolongamentos para os lados logo abaixo das costelas.

Basicamente o fígado possui uma artéria (hepática), uma veia (porta) e um ducto (biliar) que se localizam na “entrada” do órgão e três veias (hepáticas) que se localizam na saída do órgão.

Os primeiros passos.

A primeira etapa é a retirada do fígado doente, chamada explante hepático. Essa é uma das etapas mais desafiadoras do transplante, pois a doença do fígado provoca um aumento de toda a pressão do sistema venoso local, o que pode propiciar sangramentos em volume acentuado.

Durante o explante, o novo órgão será preparado em uma cirurgia de mesa, submerso em uma solução especial e gelada, ali os vasos sanguíneos serão preparados para as emendas (anastomoses) na cavidade abdominal.

A colocação do novo fígado.

O implante se inicia na segunda etapa, com a reconstrução da saída de sangue do novo fígado, que é realizada através da anastomose da veia cava inferior do novo órgão à veia cava inferior do paciente.

A etapa seguinte é a confecção da anastomose da veia porta, responsável pela chegada de todo o sangue que passa pelos nossos intestinos e que deve chegar ao fígado para todos os processos de metabolismo do órgão. A veia porta é um vaso sanguíneo com paredes bem delicadas, finas, sua anastomose deve sempre almejar a perfeição para bons resultados.

Novo fígado entra em campo.

Após a reconstrução da drenagem venosa da veia cava inferior e da veia porta, ocorre a liberação dos clamps cirúrgicos que estão ocluindo esses vasos, o que permite o sangue fluir pelo fígado novo. Esse momento é chamado de reperfusão e marca o fim do tempo de isquemia fria, que é o intervalo de tempo que corresponde ao período que o órgão foi retirado, gelado e armazenado na cirurgia do doador.

A reperfusão é um momento crítico do transplante. Nesse momento, observamos como o organismo reage ao surgimento do novo órgão na circulação e observamos os primeiros sinais, se o órgão terá um funcionamento adequado ou não.

Após alguns minutos da reperfusão, inicia-se a reconstrução da artéria hepática. Em um indivíduo adulto, normalmente, ela não tem um calibre maior do que 5-6 mm. Essa anastomose deve ser feita com fios de sutura especiais, muito finos e sob magnificação de 3,5x, visando obter uma maior segurança no procedimento. Logo após essa anastomose, é liberado o fluxo de sangue através dela, completando a reperfusão do fígado.

A última etapa é a reconstrução da via biliar, em sua maioria das vezes através de uma anastomose em que utilizamos um dreno interno para auxiliar o escoamento da bile. Geralmente nessa hora, já se observou a produção da bile pelo novo fígado, o que é um sinal muito bom de funcionamento adequado do órgão.
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E chegamos ao fim da cirurgia.

Após as revisões finais, um dreno (tubo) é posicionado e fica dentro do seu abdome no pós-operatório. O tempo total de procedimento cirúrgico pode variar de 2,5 a 5 horas.

Sua família será orientada a aguardar em uma sala de espera durante o procedimento, conforme a disponibilidade, eles serão notificados do progresso da cirurgia. Um cirurgião da equipe irá conversar com sua família após o término do procedimento.

Esses são os passos da cirurgia do transplante de fígado. Costumamos dizer que essa é um grande vitória, ter chegado ao momento do transplante. Não obstante é o início de uma longa caminhada, da recuperação da cirurgia, que se inicia na Unidade de Terapia Intensiva.

Pontos-chave:

• O explante é a retirada do fígado doente;
• O implante é a colocação do fígado sadio;
• O esperado é o paciente ter um funcionamento imediato do órgão transplantado.

Dr. Fábio Silveira

Médico pela PUCPR (CRM 20009/PR). Residência médica em cirurgia geral pela PUCPR, com área de atuação em cirurgia vídeo-laparoscópica (RQE 192). Título de Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RQE 13560). Título de Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (RQE 15509). Atua na área de transplante de fígado, pâncreas e rim. Membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado (ILTS) e da Sociedade de Transplantação (TTS).

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