O fígado e a circulação sanguínea.

A relação do fígado com o sangue advindo do sistema venoso porta é reveladora de muitas de suas funções e também dos problemas quando o órgão adoece.

O fígado possui uma característica ímpar quando comparado a todos os outros órgãos de nosso corpo, pois recebe a maior parte de seu suprimento sanguíneo oriundo do sistema venoso, principalmente no período pós-prandial (após a alimentação).

Esse sistema venoso do fígado é chamado sistema venoso portal. Mesmo quando estamos em repouso, o fígado recebe aproximadamente 75% de seu suprimento sanguíneo através da veia porta e os 25% restantes através da artéria hepática. Além disso, em virtude de mecanismos regulatórios, no período pós-prandial, o fluxo de sangue ao fígado pela veia porta pode aumentar proporcionalmente para até quase 90%.

A veia porta é formada pela confluência (união) da veia mesentérica superior com a veia esplênica, tendo ainda como tributárias (afluentes) a veia mesentérica inferior e a veia gástrica esquerda.

Isso significa que esse sistema drena o sangue do estômago, pâncreas, intestino delgado e intestino grosso. O notável é o fato que apesar dos órgãos esplâncnicos (estômago, pâncreas, intestino delgado e intestino grosso) representarem aproximadamente somente 5% do peso corporal, eles recebem até 25% do débito cardíaco (volume total do sangue circulante em um minuto), isso significa que o fígado recebe uma quantidade desproporcional de oxigênio e nutrientes quando comparado com o seu peso.

Como o fígado funciona ao microscópio.

Microscopicamente, o sangue circula pelo fígado por uma série de sinusóides que são cavidades de baixa resistência, que recebem o sangue oriundo dos pequenos ramos da veia porta e da artéria hepática. Quando estamos em repouso, muitos desses sinusóides estão colapsados, entretanto quando o fluxo sanguíneo ao fígado aumenta (após a refeições por exemplo) esses sinusóides são recrutados, permitindo que o aumento do fluxo de sangue ao fígado não resulte em aumento significativo da pressão venosa local.

Imagine os sinusóides como pequenos canos em que suas paredes parecem o material de uma bexiga. Ao receberem um aumento do fluxo de sangue, são capazes de se expandir, evitando o aumento de pressão.

A arquitetura de circulação do sangue no fígado também é reveladora de suas funções, sendo baseada no que chamamos de tríade portal. Essa tríade é composta de ramos da artéria hepática, veia porta e ducto biliar. O sangue flui através do ramo da veia porta, atinge os sinusóides, que ligam os cordões de células cubóides (hepatócitos) até uma veia central, que por conseguinte drenará o sangue para a veia hepática. Os ramos da artéria hepática correm em conjunto com os ductos biliares, possuindo uma importante função de fornecimento de energia e suprimentos para eles.

Pontos-chave:

  • O fígado recebe grande quantidade do volume sanguíneo circulante, o que reflete a importância das funções por ele exercidas.
  • O sangue em condições normais deve fluir sem resistência pelos sinusóides, pequenos vasos sanguíneos de caráter elástico.
  • A formação da bile é resultado do trabalho das células do fígado (hepatócitos)

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