Previamente comentamos o importante e relevante papel das infecções por enterobactérias, bactérias gram-negativas que em conjunto com a Acinetobacter Baumannii resistente à carbapenêmico são atualmente a maior dor de cabeça infecciosa no transplante hepático. Embora as últimas mais prevalentes, o guideline da Associação Americana de Transplante (AST)1 traz os germes Stenotrophomonas matophilia (SM), Burkholderia cepacia complex (BCC) e Achromobacter xylosoxidans (AX) como de mais raro isolamento, porém de importante significado clínico. São bacilos gram-negativos não fermentadores que geram preocupação nos transplantes de órgãos sólidos. Os mecanismos de resistência expressados por esses germes estão descritos na tabela abaixo.
Germe | Mecanismo de resistência |
Stenotrophomonas matophilia | Resistente à b-lactâmico, incluindo carbapenêmico e aminoglicosídeo. |
Burkholderia cepacia complex | Resistente à penicilina, cefalosporina (com exceção da ceftazidima), monobactâmicos, imipenem, colostina, fosfomicina e aminoglicosídeos. |
Achromobacter xylosoxidans | AmpC cefalosporinase e b-lactamase classe D |
Dos 3 microrganismos em questão, tivemos em nossa casuística o isolamento da Burkholderia cepacia complex em 3 diferentes pacientes e não tivemos casos isolados de Stenotrophomonas matophilia e Achromobacter xylosoxidans. Dois dos casos foram em culturas de sangue e um caso de cultura de líquido pleural.
Com evidente carência de estudos clínicos a respeito do tratamento, as considerações são baseadas no perfil de sensibilidade de a partir de estudos com baixa evidência científica.
A SM tem seu tratamento baseado no sulfametoxazol+trimetropima (15mk/kg de trimetropina dividida a cada 6-8h), ou, com terapia alternativa, incluindo terapia combinada, tendo a ceftazidima, minociclina e levofloxacina como agentes secundários em potencial.
2 comprimidos de Bactrim F® (800/160) 6/6h para um paciente de 80kg.
Para a BCC a recomendação é o sulfametoxazol+trimetropima (SMX/TMP) em alta dose, considerando que ceftazidima, piperacilina e meropenem como agentes apropriados na ausência do SMX/TMP). Já a AX é tratada com carbapenêmico, com exceção do ertapenem.
Precauções de contato e cuidados na esterilização de materiais que entram em contato com vias aéreas (broncoscópios, nebulizadores) são a base da prevenção dessas infecções. A BCC tem habilidade de tolerar a clorhexidina, o que permite a contaminação de antisépticos.
Referências bibliográficas.
Pouch SM, Patel G, Practice ASTIDCo. Multidrug-resistant Gram-negative bacterial infections in solid organ transplant recipients-Guidelines from the American Society of Transplantation Infectious Diseases Community of Practice. Clin Transplant. 2019 Sep;33(9):e13594.Disponível em:http://dx.doi.org/10.1111/ctr.13594