Graduação da gordura no fígado pela ultrassonografia.

A ultrassonografia é muito utilizada como um método de rastreamento da esteatose hepática, pois é um exame bastante acessível para a população e não invasivo.

Comumente as pessoas recebem pela primeira vez o diagnóstico de fígado gorduroso após um exame de ultrassonografia. A ultrassonografia faz uma estimativa indireta da quantidade de depósito de gordura no fígado através da alteração de algumas características de obtenção da imagem, que chamamos de alteração de ecogenicidade e ecoamplitude.

Para podermos entender um pouco sobre a graduação da deposição da gordura no fígado, vamos tentar ter uma visualização rápida do fígado no exame de ultrassonografia. A imagem abaixo é a visualização de parte do lado direito do fígado durante o exame.

O fígado possui uma graduação em tons de cinza e seus limites estão demonstrados pela linha amarela abaixo.

Pelas características anatômicas do órgão, ele fica justaposto ao diafragma, músculo que separa o tórax do abdome. A visualização do diafragama nessa imagem é representada pela linha verde na figura seguinte.

A estimativa da quantidade de deposição de gordura no exame de ultrassonografia se baseará na alteração de ecogenecidade do fígado e da possibilidade (atenuação) de visualização do diafragma.

Alteração de ecogenecidade significa que quanto mais gordura o fígado conter, mais brilhante, esbranquiçado ficará o fígado.

Dito isso, a esteatose visualizada na ultrassonografia é classificada em:

  • S0 – sem esteatose. Fígado apresenta a mesma ecogenicidade do parênquima renal, sem atenuação posterior.
Sem esteatose.
Sem esteatose.
  • S1 – esteatose leve.  Fígado mais ecogênico (brilhante) com atenuação posterior discreta.
Esteatose leve.
Esteatose leve.
  • S2 – esteatose moderada. Fígado mais ecogênico com atenuação posterior óbvia.
Esteatose moderada.
Esteatose moderada.
  • S3- esteatose acentuada. Fígado mais ecogênico (brilhante) com atenuação posterior intensa, sem visualização do diafragma.
Esteatose acentuada.
Esteatose acentuada.

Essa estimativa da deposição de gordura é influenciada pela experiência do médico que faz o exame, a quantidade de gordura e parâmetros técnicos do aparelho de ultrassonografia utilizado, como a sua calibração, frequência utilizada e ganho.

É importante salientar que a graduação da gordura no fígado (esteatose) no exame de ultrassonografia (leve, moderada, acentuada) não tem relação direta com a gravidade da doença, pois esse exame é incapaz de determinar a presença de inflamação no fígado (esteatohepatite).

Outro lembrete importante é que esteatose leve ao exame de imagem corresponde a pelo menos 30% de deposição de gordura no órgão, quantidades menores que essa não são possíveis de serem avaliados pela a ultrassonografia. Caso o médico determine a necessidade de tentar quantificar a presença ou não de inflamação, outras avaliações, constituídas de exames bioquímicos (de sangue), de elastografia ou até de biópsia podem vir a ser requisitados.

Referências bibliográficas.
1) Ferraioli G, Soares Monteiro LB. Ultrasound-based techniques for the diagnosis of liver steatosis. World J Gastroenterol. 2019;25(40):6053-6062. doi:10.3748/wjg.v25.i40.6053
2) Mariana Verdelho Machado, Anna Mae Diehl – Pathogenesis of Nonalcoholic Fatty Liver Disease,Editor(s): Arun J. Sanyal, Thomas D. Boyer, Keith D. Lindor, Norah A. Terrault,Zakim and Boyer’s Hepatology (Seventh Edition). 2018. Pages 369-390.e14. ISBN 9780323375917. https://doi.org/10.1016/B978-0-323-37591-7.00025-2.
Aviso legal: como médicos também temos a função social de divulgar a medicina e saúde, aproveite essas informações para cuidar da sua. Entretanto,  reforçamos que ela não substitui atendimento médico. As imagens contidas no artigo foram obtidas pelo Dr. Eduardo Rocha Sbrissia.

Dr. Fábio Silveira

Médico pela PUCPR (CRM 20009/PR). Residência médica em cirurgia geral pela PUCPR, com área de atuação em cirurgia vídeo-laparoscópica (RQE 192). Título de Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RQE 13560). Título de Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (RQE 15509). Atua na área de transplante de fígado, pâncreas e rim. Membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado (ILTS) e da Sociedade de Transplantação (TTS).

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