Quando líquido se acumula na cavidade abdominal, chamamos de ascite. A cirrose do fígado é a causa mais comum de ascite, mas outras condições como insuficiência cardíaca, insuficiência renal, infecção ou câncer podem causar ascite.
A ascite é comum em pessoas com cirrose e geralmente se desenvolve quando o fígado está começando a falhar. Em geral, o desenvolvimento da ascite evidencia doença hepática avançada e todos os pacientes devem ser aconselhados a consultarem com especialistas sobre a possibilidade de transplante de fígado.
A ascite é causada por uma combinação de pressão elevada nas veias que atravesssam o fígado (hipertensão portal) e por uma diminuição da função do fígado causada pela cirrose. A maioria dos pacientes que desenvolvem ascite vão notar um aumento do volume abdominal e ganho rápido de peso. De maneira associada, alguns pacientes podem notar inchaço (edema) nas pernas e dificuldade respiratória (respiração encurtada). O diagnóstico é realizado pelo exame físico de seu médico, ou pela utilização de exames complementares, como a ultrassonografia abdominal. Na grande maioria dos pacientes, um procedimento chamado de paracentese, será indicado para a remoção de uma amostra do líquido para a realização de exames laboratoriais.
A ascite pode ser considerada de pequeno, médio ou grande volume.
A ascite é um sinal perigoso do avançar da doença hepática. A taxa de sobrevida em 5 anos nos pacientes que desenvolvem ascite gira em torno de 30-40%, isso significa que uma vez desenvolvida a ascite, em 5 anos 60-70% dos pacientes morrerão. Por esse motivo, a partir de seu surgimento a necessidade de um transplante de fígado deve ser considerada.
Algumas complicações podem ocorrer com o desenvolvimento da doença, como dor abdominal e desconforto respiratório, sendo esse último causado pelo excesso de acúmulo de líquido na cavidade abdominal. Esse aumento de volume no abdome pode causar dificuldades na alimentação e na mobilidade diária do paciente.
O líquido ascítico pode desenvolver uma infecção chamada peritonite bacteriana espontânea, que clinicamente se apresenta com dor abdominal, febre e náuseas. Caso não prontamente identificada e tratada, pode induzir falência dos rins, infecção grave e confusão mental.
Com o acúmulo de líquido, hérnias na parede abdominal podem se desenvolver, principalmente na região umbilical e inguinal. Esse tipo de hérnia, relacionada a ascite, geralmente é tratada de maneira conservadora, evitando qualquer tipo de cirurgia.
O líquido ainda pode passar a se acumular dentro do tórax, quadro clínico chamado de hidrotórax hepático, sendo mais comum no lado direito de nosso tórax.
O primeiro passo para o tratamento da ascite é a redução da ingesta de sódio (sal). Seu médico irá orientar a redução da ingesta diária para 2000mg de sódio por dia. Como algumas vezes é difícil determinar o conteúdo de sal de alguns tipos de alimentos, geralmente recomenda-se a consulta com um nutricionista, que orientará os alimentos a serem evitados.
Os pacientes podem usar substitutos do sal, mas é essencial escolher um sem potássio, porque os níveis de potássio podem aumentar com algumas medicações utilizadas para tratar a ascite. Muito frequentemente, os pacientes necessitarão diuréticos para o tratamento da ascite.
Seu médico determinará a dosagem mais adequada dos diuréticos. Como esse tipo de medicação pode alterar os níveis sanguíneos de alguns de nossos eletrólitos (sódio, potássio, cloretos e bicarbonato), monitorização com exames de sangue durante o tratamento é necessária.
Perceba que o uso de diuréticos não substitui a dieta sem sal, o uso somente de diuréticos sem cumprir a restrição de sódio não ocasionará os efeitos desejados.
Quando a ascite não conseguir ser manejada com dieta e diuréticos, os pacientes poderão precisar se submeter a retirada de líquido ascítico em grande quantidade (paracentese) para alívio dos sintomas. A paracentese deve ser evitada o máximo possível, pois aumento o risco de infecções.
Quando a ascite não pode ser controlada pela dieta e diuréticos, passa a se chamar ascite refratária, podendo ser indicada uma cirurgia de derivação do sistema sanguíneo portal para o sistema sanguíneo sistêmico, confeccionado pela radiologia intervencionista e chamado shunt porto-sistêmico intra-hepático (TIPS).
Como já mencionado, o desenvolvimento de ascite é um sinal sério do avanço da doença hepática, sendo que o paciente necessita da avaliação de um centro transplantador.