Nutrição na cirrose hepática

Uma alimentação adequada na cirrose hepática é fundamental para prevenir ou retardar as complicações da doença. A difusão de informações erradas, baseadas em conceitos ultrapassados pode auxiliar na adoção de hábitos alimentares que são prejudiciais ao paciente.

De maneira geral uma alimentação saudável e variada é recomendada a todos os pacientes. Fora o álcool, virtualmente nenhuma comida danifica o fígado ou é contra-indicada para pacientes com cirrose. 

A própria evolução das complicações da cirrose – ascite, encefalopatiahemorragia digestivacâncer – auxiliam na diminuição do apetite e na má-absorção de nutrientes, resultando na perda de massa muscular, complicação que chamamos de sarcopenia.

Imagine o fígado como uma grande usina de processamento. Se a usina de processamento está afetada por uma doença, os nutrientes absorvidos podem não ser plenamente utilizados. Além disso, uma usina defeituosa não armazena a energia que nosso corpo precisa durante os intervalos que estamos em jejum, o que resulta no consumo de energia armazenada em nossos músculos.

Esse ciclo nefasto resulta na sarcopenia, o que aumenta o risco de infecções e de encefalopatia.

Nem todo o paciente com cirrose perde peso, mas todo o paciente com cirrose sem tratamento adequado vai perder massa muscular. Essa perda de massa muscular pode não aparecer inicialmente, pois o paciente pode ganhar peso em gordura ou com retenção de líquidos.

E o que devemos fazer para evitar a sarcopenia? Comer bem, uma alimentação variada com fonte de proteínas e calorias. Essa regra geral é muito mais importante do que evitar tipos específicos de alimentação.

O consumo de proteínas é sempre motivo de preocupação. Conceitos ultrapassados relacionando a ingesta de proteína com a encefalopatia hepática são responsáveis por isso. É errado pensar que um paciente com cirrose deva evitar proteína.

Fontes de proteínas são as carnes e ovos; vegetais como feijão, ervilha, lentilha, milho, soja e os derivados do leite. Utilize esses alimentos, adotando eles conforme seu gosto e tolerância. Não esqueça das frutas e vegetais diariamente e uma variedade de grãos, principalmente os integrais, que irão ajudar no funcionamento do intestino.

O avançar da cirrose pode resultar na retenção de líquidos e formação de ascite. Nesses casos a restrição da ingesta de sal na comida pode ser recomendada. Para evitar o excesso de sal, mantenha o saleiro fora da mesa. Não utilize temperos que dizem ser “substitutos” do sal. Comidas processadas e enlatadas possuem grande quantidade de sal, corra delas. Um dieta com baixa quantidade de sal exige algum tempo de ajuste, mas geralmente fica mais fácil com o passar do tempo.

 

Cuidados durante a espera do transplante de fígado.

Além de sabermos o que comer, devemos aprender quando comer. O paciente com cirrose nunca pode ficar muito tempo sem se alimentar. Café-da-manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, janta e lanche noturno devem ser obrigatórios. O lanche noturno, uma breve refeição 30 minutos antes de deitar para dormir é muito importante.

Esse lanche noturno deve se constituir de pão integral, aveia, frutas com casca, barras de cereais e suplementos nutricionais.

Devemos frisar que essas são orientações gerais da dieta de um paciente com cirrose. Condições específicas de cada paciente devem ser discutidas junto com seu médico e nutricionista.

Reforço que a dieta do paciente com cirrose deve ser saudável e variada. Os maiores equívocos que observamos na prática clínica são a restrição da ingesta de proteínas e espaçamento do intervalo das alimentações. 

Aviso legal: como médicos também temos a função social de divulgar a medicina e saúde, aproveite essas informações para cuidar da sua. Entretanto, reforçamos que ela não substitui atendimento médico.

Cirrose hepática, e agora?

Preparamos um conteúdo especial para sanar suas dúvidas sobre o tema.

Dr. Fábio Silveira

Médico pela PUCPR (CRM 20009/PR). Residência médica em cirurgia geral pela PUCPR, com área de atuação em cirurgia vídeo-laparoscópica (RQE 192). Título de Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RQE 13560). Título de Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (RQE 15509). Atua na área de transplante de fígado, pâncreas e rim. Membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado (ILTS) e da Sociedade de Transplantação (TTS).

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