A cirrose hepática, conhecida como cirrose no fígado, é o estágio final da doença hepática, que ocorre como uma resposta aos mais variados tipos de agressão ao fígado.
Quando sofre uma lesão, o fígado ativa algumas células específicas (células estreladas) que possuem como função a produção de colágeno, que é uma substância que produz uma espécie de cicatriz. Se esse tipo de lesão acontece de maneira repetida, o continuo depósito de colágeno ocasiona o endurecimento do órgão e a alteração da arquitetura de seu funcionamento, ocasionando a cirrose hepática. Simplificando, a cirrose hepática é uma situação em que múltiplas cicatrizes alteram a forma e função do fígado. Confira abaixo como é o aspecto macroscópico, a olho nu, de um fígado normal e de um fígado com cirrose.
O fígado desenvolve várias funções essenciais para o organismo como a eliminação de substâncias tóxicas, purificação do nosso sangue e produção de nutrientes vitais. Além dessas funções ele apresenta um importante papel na circulação do sangue dentro da cavidade abdominal. Isso é de importante conhecimento pois, em um processo de cirrose, teremos consequências secundárias à perda de funcionamento do órgão e do aumento da pressão venosa local.
Microscopicamente, isso é, quando olhamos o fígado com o auxílio de um microscópio, a cirrose se comporta com a formação de feixes de fibrose, que progressivamente vão distorcendo a arquitetura normal das células do órgão. Confira abaixo fotos da avaliação microscópica de um fígado normal e um fígado com cirrose.
O diagnóstico de cirrose hepática é realizado através de sinais e sintomas apresentados pelo paciente, em conjunto com a análise de exames laboratoriais e de imagem. A cirrose geralmente é assintomática até a sua fase terminal. Os sintomas são muitas vezes inespecíficos, e incluem: fadiga, facilidade para sangrar, acumulo de líquidos no abdômen (ascite), perda do apetite, enjôo, inchaço nas pernas e perda de peso. No exame de imagem, se visualiza as alterações características da doença, como aumento de alguns segmentos do fígado, diminuição global do tamanho do órgão, aumento do baço e aumento da veia porta. Os exames de imagem também auxiliam na identificação de câncer e de tromboses (entupimentos) dos vasos sanguíneos. O aspecto de uma tomografia demonstrando a doença pode ser observado abaixo.
Existem várias doenças que podem levar à cirrose, não somente o consumo excessivo de álcool, como a maioria das pessoas ainda acredita. As causas mais comuns são: uso crônico de bebidas alcoólicas, hepatite B, hepatite C, cirrose biliar primária, doença hepática gordurosa associada ao metabolismo (gordura no fígado), colangite esclerosante e hepatite autoimune.
A cirrose representa um estágio terminal da doença hepática, a identificação e tratamento da causa da cirrose pode ajudar a retardar o aparecimento das complicações da doença e proporcionar maior tempo de sobrevida, que é o tempo que o paciente sobrevive após o diagnóstico da doença.
Os pacientes que sofrem da dependência de álcool devem parar a ingestão imediatamente, e como a dependência do álcool se trata de uma doença, é necessário tratamento especializado em programa para dependentes de álcool. Nos casos de hepatites virais, existem medicações que podem controlar ou curar o dano celular causado por estes vírus, retardando a progressão da doença.
As consequências do avançar da doença podem incluir:
• Retenção de líquidos no organismo: quando ocorre o acúmulo de líquidos no abdômen (ascite) ou em membros inferiores, são usados diuréticos associados a uma dieta com pouco sódio (sal). Algumas vezes é necessária a retirada do liquido do abdômen através de um procedimento chamado paracentese.
• Aumento da pressão na veia porta e suas tributárias: medicamentos para pressão podem ajudar a diminuir a pressão nestas veias e assim diminui a chance de sangramento das varizes do esôfago. Pode ser necessário exame de endoscopia digestiva para esclerosar ou realizar ligadura elástica das varizes do esôfago. Há também a possibilidade de colocação de um “stent” que faz uma comunicação da veia porta dentro do fígado, chamado TIPS.
• Risco aumentado para infecções: normalmente tratados com antibióticos, dieta adequada e controle adequado do uso de medicamentos. A mais comum delas acontece na ascite, chamada peritonite bacteriana espontânea. Não obstante, infecções no pulmão, urina e pele são bastante comuns, e perigosas, no paciente com cirrose.
• Desenvolvimento de câncer de fígado: pacientes com cirrose tem maior risco para câncer do fígado (hepatocarcinoma). Exames de imagem e de sangue são solicitados regularmente para a detecção em estagio inicial quando ainda é possível o tratamento.
• Níveis aumentados de toxinas no sangue causando alterações mentais: a encefalopatia hepática é manejada com medicamentos que diminuem a absorção destas toxinas pelo intestino ajudam no tratamento.
Quando a doença hepática progride a um ponto em que a sobrevida do paciente com qualidade de vida está comprometida, pode surgir a necessidade de um transplante de fígado.